quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ADVENTO: reavivar a esperança

Advento é um tempo bonito, alegre e marcado pela esperança; mas é breve, como nossa vida que, de fato, é o tempo real significado por este tempo litúrgico. O Advento coloca- nos no contexto das promessas de salvação, anunciadas pelos profetas e cumpridas com o envio do Salvador prometido ao mundo e sua manifestação na palavra e na ação de Jesus. É tempo de esperança e de alegria.

A celebração do Natal recorda-nos a surpreendente proximidade de Deus em relação aos homens; o Filho de Deus veio ao mundo para estar próximo de cada pessoa e para revelar-lhe humanamente o amor de Deus. Por que, será, que o Natal nos traz um clima geral de serenidade e paz, de alegria e fraternidade? Não será porque nos sentimos mais próximos de Deus, amados por Ele e “salvos” de nossas limitações e preocupações diárias?

Mas o Advento também aponta para o futuro, para a realização plena da salvação de Deus. Desde agora, já vislumbramos, através do véu da fé, aquilo que ainda esperamos; sabemos que Deus é fiel e cumprirá suas promessas. Por isso, enquanto vivemos “de esperança em esperança”, a Igreja nos recorda sempre de novo que, durante este tempo, devemos ser operosos na prática do bem e vigilantes, para não distrair-nos, nem desviar-nos do caminho certo. O Senhor glorioso pode vir ao nosso encontro a qualquer momento e pedir contas de nossa vida; quem tiver sido fiel a Deus na vida, perseverante na prática do bem e coerente com o reino de Deus, verá a plenitude da vida. É o que todos desejamos e buscamos!

Em nossos tempos é muito importante recordar este horizonte de esperança da nossa existência e a responsabilidade que todos temos de viver bem, pois a vida é dom e tarefa. Recordava o Papa Bento 16, na encíclica Spe salvi(Salvos na Esperança), que um dos aspectos mais preocupantes da cultura do nosso tempo é a ausência da esperança – daquela grande Esperança, que vai além daquilo que nós mesmos podemos dar-nos, e que somente Deus pode dar-nos.

Li, recentemente, a entrevista de uma pessoa que afirmava não crer em Deus e que estava bem assim: “não quero ser salva, não preciso de Deus”. Será mesmo?! Muitas vezes, o sonho inteiro de uma vida se resume em comer, beber, divertir-se, ter casa, dinheiro, saúde… São coisas boas, e quem não as quer?! Mas não são elas o objetivo da vida. Nosso coração deseja mais e continua inquieto. Não devemos enganá-lo, dando-lhe apenas “coisas”, que não podem satisfazê-lo plenamente! Só Deus mesmo é o supremo bem do homem.

Pensando nisso, não deixa de preocupar que este período do ano, mais que todos, é marcado pelo consumismo desenfreado: a promessa da felicidade em cada artigo posto à venda, a corrida compulsiva às compras, a necessidade de comer e beber bastante no Natal, presentes dados e recebidos… É difícil resistir ao clima contagiante que a corrida ao consumo de bens cria; parece que a felicidade tem fórmula mágica e hora marcada para acontecer: “a gente pensa que em pacotes compra a paz”… É sempre mais evidente a perda do sentido cristão do Advento e do Natal!

O Advento cristão é um convite para ouvir mais a Palavra de Deus, rezar mais intensamente, voltar-se para os motivos mais profundos do nosso viver, fazer um balanço de nossas vidas; é tempo de acordar a esperança sobrenatural esquecida, de praticar a solidariedade, confessar os pecados, abrir as portas e acolher o Deus-que-vem e já está no meio de nós! Não percamos de vista nossa fé e esperança!

Eis a nossa tarefa de cristãos! Não deixemos de dar nossa contribuição para uma cultura que se empobrece sempre mais e perde os altos referenciais para a vida humana. Anunciamos a dimensão sobrenatural da nossa existência e o caminho para alcançá-la Esta luz brilhou para os pastores na noite de Belém e continua a brilhar para todos na pessoa de Jesus Cristo, “luz do mundo”!

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 29.11.2011

Card. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

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