terça-feira, 22 de junho de 2010

DISCERNIMENTO VOCACIONAL

DISCERNIMENTO VOCACIONAL

1. INTRODUÇÃO.

2. PRESSUPOSTO BÍBLICO.


O discernimento vocacional se apresenta na Bíblia mais como um exercito do que uma teoria. O enfrenta forças contrapostas e é obrigatório a distinguir e optar.

Textos Fundamentais:
1. Lc 9,57-62 => as desculpas dos chamados
2. Lc 18,18-27 => Mestre, que devo fazer...
3. At 1,15-26 =>distinguir qual e a vontade de Deus
4. Gl 6,1-10 =>critérios para ser ministro.

Pauta Para Análise

1. Situações descritas nos textos e problemas apresentados.
2. Qual è o objetivo do discernimento no texto?
3. Quem o realiza?
4. Chave do discernimento (expressão ou expressões chaves e critérios fundamentais ).
5. Atitudes e exigências, disposições ou condições para o discernimento.

3. ETAPAS DO DISCERNIMENTO VOCACIONAL

3.1 PROMOVER E SUSCITAR

- Toda comunidade è co-responsável
- Criar um clima vocacional
-Sentimento de pertença á comunidade
-Criar ambiente para se ouvir o chamado.

Nas crianças => INFLUÊNCIA: -dos pais

-dos catequistas
-da escola

Nos jovens => -grupos

-comunidade

3.2 ACOLHER E ACOMPANHAR

- é importante o papel do orientador, do agente vocacional
-saber ouvir
-dar espaço para o jovem sentir-se útil
-inserção na comunidade
-apoio da comunidade.

3.3 FORMAR

-é etapa que terá continuidade a vida toda
-opção definitiva
-esta etapa tem duas vertentes: a pessoal, é o candidato que é protagonista, deve tomar uma opção livre com o apoio da comunidade e da equipe de formação ; e a vertente oficial, porque é a Igreja e o Instituto ou Congregação que deve aceitar ou não.

É nesta hora que a comunidade tem um papel fundamental, porque é a hora decisiva.

4. CONCEPÇÃO SOBRE VOCAÇÃO
( B. Giordini : Respuesta del hombre a la llamada de Dios)

4.1 CONCEPÇÃO ESPIRITUALISTA

A vocação consiste num chamado direto e especial que Deus dirige a cada um .É uma graça especial e que necessita de uma resposta.

4.2 CONCEPÇÃO PSICOLOGISTA

O acento desta concepção está na auto-realização, sem terem contra nem a realidade, nem o outro. A vocação se concentra no próprio sujeito, suas qualidades, aspirações, interesses e atitudes (incoerência ).

4.3 CONCEPÇÃO ANTROPOLÓGICO-EXISTENCIAL-CRISTÀ

Põe em relevo as relações entre Deus e o homem (transcendência ). A iniciativa porém é Deus, se manifesta nas situações concretas, históricas que movem a pessoa (mediações). A vocação é dom e resposta (vacação-missão)

5. SÍNTESE SOBRE O DISCERNIMENTO

5.1 - O discernimento caracteriza a vida cristã : o cristão deve estar sempre atento aos sinais e á vontade de Deus.

5.2 - O discernimento vem da liberdade da pessoa. Não há um caminho pré-fixado, mas um convite para colaborar no plano de Deus.

5.3 - O discernimento afeta a conduta e a caminhada do cristão.

5.4 -O sujeito é o cristão, mas inserido dentro de uma comunidade.

5.5 -Critérios de discernimento:

-não levar-se aos critérios do mundo
-transformar-se pela renovação da mente
-deixar-se levar sempre pelos princípios do bem , do amor fraterno. O amor fraterno se configura como faculdade de discernimento.

5.6 - Acertar na opção se reconhece na conduta prática e pelos frutos do espírito.

6. ILUMINAÇÃO

Discernimento é perceber por onde devo andar para fazer a vontade de Deus.

Em Rm 12,1ss há dois caminhos:

- o da purificação -(negativo) não vos conformeis com o mundo;
- o da transformação - (positivo) transformar a mente.

6.1 O CAMINHO DA PURIFICAÇÃO

Não vos deixeis esquematizar por este mundo.

O esquema é uma realidade superficial por este mundo.

Este mundo: sociedade construída pelo homem.

Este mundo tem um esquema e o esquema é proposto. Paulo pede que nosso estilo não seja o estilo do mundo. Quais são hoje os modelos para a sociedade brasileira? Esquema do mundo : P.C., Collor, políticos...

Cuidado com o esquema. Dizer não aos esquemas que vão entrando na nossa vida. ( Por que vocês não podem comer de todas as frutas? Por que não pode comer o que é bonito e bom ao paladar? Gm 3). O coração torna-se entenebrecido. Nossos canais ficam obstruídos (canal social e canal afetivo).

O esquema do mundo está em torno de Deus . O mundo afirma a presença de Deus, mas mas Deus não serve para nada . Presta homenagem a Deus, mas não permite que Deus entre em sua existência. Uma pessoa neste esquema presta culto, reverencia Deus mas não dá um espaço para Deus, não o deixa entrar em sua vida particular.

O esquema do mundo relativiza valores. Quando há relativos absolutizados em minha vida, tudo fica fora de foco, não me situo mais na historia, tudo é errado (Adoraram a criatura, em vez do Criador - 1,18ss). Não há mais sintonia, mas loucura. O Deus que cultuo não tem nada a ver com a minha vida. O capitulo 2 da Carta dos Romanos acentua que o povo reconhece a Deus mas se liberta do esquema de Deus porque o centro é Deus e ele está em Deus. São as virgens imprudentes, tinham certeza absoluta de que
não haveria festa sem elas, e no entanto houve. Tem certeza de
que podem fazer o que quiser por que tem Deus na mão. Faço o que quero porque pertenço ao povo de Deus, sou escolhido, sou padre, sou religioso - religiosa...

Paulo propõe o seguinte caminho da perfeição:

a) oração: reconhecimento da fé;
b) jejum: fortificar o homem interior - auto - domínio;
c) esmola: reconhecimento do irmão.

6.2 CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO

"Transformai-vos renovando vossa mente"

Mente=> capacidade de se situar. Se não nos transformarmos não podemos nos situar. Cuidem para ue a mente não caia na loucura.

A transformaqção da nossa mente é obra da gratuidade de Deus.

Ao tomar uma decisão abrir espaço para o Espirito Santo.

- que vosso amor cresça cada vez mais em conhecimento e em sensibilidade a fim de poderes discernir o que mais nos convém.

- que vocês sejam puros e irrepreensíveis na plena maturidade da justiça de Cristo.

- para a glória e o louvor do Pai.

A sensibilidade é um dos maiores critérios para o discermimento.

- mudança de um coração de pedra em carne ( Ez 36)

- solidariedade ( não é fácil perceber que existeo outro)

- quem são nossos amigos?

- Quais são os carentes que são nossos amigos?

- Sensibilidade é perceber o que falta para o outro.


PRESSUPOSTO PARA O DISCERNIMENTO VOCACIONAL

1. Projeto de Vida Sacerdotal e Religiosa

- é um projeto centrado em valores absolutos e não em satisfação imediatas.

- se realiza mediante a renúncia em favor das pessoas.

Esta renúncia se faz em favor de:
* Deus , primazia de tudo. Ultrapassa os limites da filantropia.É o sentido único da vida.
* Deus encarnado - manifestado sobretudo nos pobres.
* Cristo que se atualiza constantemente na Igreja, lugar de encontro
homem-Deus.

-quando não há estas bases humanas e cristãs este projeto vocacional não poderá ser assumido.

2. Crescimento psicológico e espiritual

Estão intimamente ligados.

- um projeto de vida comprometido com Deus e com irmãos germina mais
facilmente se o sujeito encontra o equilíbrio interior libertando-se das
ansiedades, complexos, fantasias, dependências, inseguranças e conformismos.

- um projeto de vida germina mais facilmente se a pessoa:

* não está presa na busca da satisfação imediatas :
* sabe tolerar as frustrações sem deixar-se levar pela impulsividade.
* aceita os conflitos sem cair em depressões prolongadas;
* se alegra com êxitos sem desequilibrar-se emocionalmente

- um projeto de vida germina mais facialmente nas pessoas que precisam
de afeto e carinho.

- um projeto de vida que exige uma relação desinteressada com Tu transcendente será difícil numa pessoa com dificuldades de relação pessoal, excessivamente introvertida, a desqualificar os demais.

3. Como discernir o crescimento de uma vocação

Normalmente tomamos os comportamentos como manifestações autênticas de valores. Se reza e obedece... é bom... logo tem vocação . Porém, nem sempre este esquema é certo, porque, nem sempre os comportamentos estão motivados por valores autênticos. Podemos aprender a fazer... ( desempenhar um papel ) e com certeza sem ser internalização de valores.
O verdadeiro discernimento vocacional não verifica tanto a presença
dos valores presentes. Não se fixa tanto no que, mas no porque. Porque obedece? Porque reza?

4. Sinais da internalização de valores

Levar em conta três indicadores:

4.1 - uma atitude é expressão de valores transcendentes quando foi escolhida pelo grau de transparência, para testemunhar os valores no que se crê e não quando foi escolhido em virtude de sua capacidade de procurar satisfação.

4.2 - uma atitude, não é expressão de valores quando o individuo se apega indiscriminadamente a ela e tudo é condicionado por ela.

4.3 - quando uma atitude é vivida não como um meio, mas como um fim em si mesmo, corre o risco de ser desempenhado com legalismo e resignação. Em tudo há renúncias a certas satisfações e este preço se paga com alegria.

5. Motivações predominantes

Em base de todo comportamento há uma gama de motivações nobres e outras menos nobres. A pessoa é como um " Iceberg ", do qual só vemos a parte que emerge, porém, esta sustentada por uma massa gigante submersa. Vemos a ação, mas não o coração. Que busca o coração?
Não podemos ver o coração, porém, é o que faz com que viva ou morra. Conhecemos o coração através das atitudes. A atitude é muito mais que opinião. A opinião está na mente, a atitude está no coração.

A atitude contém elementos afetivos e volitivos que a faz mais resistente á mudanças.

6. Funções das atitudes
6.1 - Função utilitária e defensiva do eu

Busca recompensas ou evita castigos

6.2 - Função expressiva dos valores e função cognicitiva.

Assume-se determinadas funções ou atitudes com a finalidade de realizar valores livres e objetivos ( maturidade).

7. Discernimento dos Espíritos

É a ajuda que uma pessoa dá a outra para que possa conhecer a vontade de Deus nela e respondê-la.

Duas formas:

- individualizar os sinais de Deus no indivíduo
- considerar a capacidade que a pessoa tem de reconhecer a presença de Deus a acolher sua ação.

Discernir não significa simplesmente dar conselhos, mas ajudar a ajudar-se. "Eu posso ajudar a viver segundo a decisão que tomou de ti mesmo sem que tenhas que depender de teu estado de ânimo momentâneo, nem de minha influência moral. Te ajudo em dizer o que deve fazer, mas como situar-se diante de Deus e diante de si mesmo". Se não se favorece a capacidade de resposta, tudo cai num espiritualismo de pias intenções.

sábado, 19 de junho de 2010

A pedagogia salesiana



Dom Bosco fez de tudo para amar os jovens como mesmo coração de Deus. E esse amor foi sistematizado pelo santo educador em um método pedagógico, o Sistema Preventivo. Para São João Bosco, prevenir não era somente evitar o mal, mas antecipar o bem. Na sua atividade pastoral-pedagógica, Dom Bosco une educação e evangelização: evangelizar educando e educar evangelizando.



Pilares do Sistema Preventivo



Amor


Também entendida na palavra italiana amorevollezza. Os jovens devem ser amados e saber disso. Dom Bosco resumia: “Faça-se amar e não se faça temer”.



Razão


Dom Bosco acreditava que só a razão podia dizer ao coração o que é o bem. É por isso que a ciência sempre foi um grande pilar da educação salesiana.



Espiritualidade


No projeto de Dom Bosco, a espiritualidade é o fundamento e coroamento dos valores e dos compromissos educativos do amor e da razão (PAULA, 2005, p. 61). Tornar os jovens “bons cristãos e honestos cidadãos” era uma grande meta de São João Bosco.




ORAÇÃO A SÃO DOMINGOS SÁVIO

Querido São Domingos, vós que ofereceu sua curta vida totalmente ao amor de Jesus e de Sua Mãe .Ajudai a juventude de hoje a compreender a importância de Deus em suas vidas. Vós tornastes um santo através de permanente participação nos sacramentos, iluminai os meus parentes e filhos da importância da frequente Confissão e da Santa Comunhão. Quando jovem vós meditastes no sofrimento da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, obtenha para nós a graça de um ardoroso desejo de sofrer por amor a Ele.
Nós desesperadamente necessitamos de sua intercessão para proteger as crianças de hoje das tentações e das zombarias do mundo. Olhai por eles e guiai-os na estrada para o Paraíso.
Peça a Deus que nos dê a graça de santificar nossos deveres diários fazendo-os por amor a Ele. Nos lembre sempre da necessidade de praticar as virtudes em tempos de atribulações e dificuldades.
São Domingos Sávio, preservai a vossa inocência em nossos corações e rogai ao Senhor por nós e pela salvação de nossa alma. Amem.

São Domingos Sávio: o mais jovem santo não mártir da Igreja


Falecendo com apenas 15 anos, aliou inocência e pureza angélicas à sabedoria de homem maduro, alcançando a heroicidade das virtudes

O primeiro e mais abalizado biógrafo de São Domingos Sávio foi seu diretor espiritual e mestre, o grande São João Bosco. Dele extraímos os dados para este artigo.
Filho de Carlos Sávio e Brígida Agagliate, Domingos Sávio nasceu em Riva, vila de Castelnuovo de Asti, em 2 de abril de 1842.
Desde pequeno foi dotado “de uma índole doce e de um coração formado para a piedade, aprendeu com extraordinária facilidade as orações da manhã e da noite, que rezava já quando tinha apenas quatro anos de idade”.

São João Bosco observa São Domingos Sávio em êxtase

Certo dia, durante um almoço em sua casa oferecido a um visitante, não tendo este rezado antes de começar a comer, Domingos pegou seu prato e retirou-se a um canto. Seu pai perguntou-lhe depois por que fizera isso. Ele respondeu: “Não me atrevo a pôr-me à mesa com uma pessoa que começa a comer como o fazem os bichos”.
Quando tinha cinco anos, ia à igreja com sua mãe; sua atitude devota chamava a atenção de todos. Se o templo estava ainda fechado, ajoelhava-se junto à porta, e aí ficava orando até que fosse aberto, não lhe importando se chovia ou nevava, se fazia calor ou frio.
Nessa idade, aprendeu a ajudar a Missa, o que fazia com muita devoção, apesar da dificuldade que tinha para transportar o enorme missal.
Seu programa de vida: “Antes morrer que pecar”
Chegado o tempo de aprender as primeiras letras, “como estava dotado de muito engenho, e era muito diligente no cumprimento de seus deveres, fez em breve tempo notáveis progressos nos estudos”.
Evitava todos os meninos arruaceiros e só estabelecia amizade com os de boa conduta.
Domingos confessava-se freqüentemente. Tão logo soube distinguir entre “o pão celestial e o terreno”, foi admitido à Primeira Comunhão, aos sete anos, quando na época a idade mínima para tal era 12 anos.
Pode-se perceber a maturidade do menino nos propósitos que deixou registrados nesse dia:
“Propósitos que eu, Domingos Sávio, me propus no ano de 1849, quando fiz a Primeira Comunhão, aos 7 anos de idade:
1o. Confessar-me-ei muito amiúde e receberei a Sagrada Comunhão sempre que o confessor me permita;
2o. Quero santificar os dias de festa;
3o. Meus amigos serão Jesus e Maria;
4o. Antes morrer que pecar.
Este último propósito, feito por um menino de tão tenra idade, mostra a que ponto haviam chegado sua precoce maturidade e sua virtude. Tornou-se ele seu programa de vida. Quantos meninos de 7 anos, hoje em dia, teriam semelhante propósito, sobretudo depois de terem sido massacrados por aulas da chamada “educação sexual”?
Calado, sofre injustiça por amor de Deus
Vista da pitoresca cidade de Mondonio, onde morreu São Domingos Sávio
Terminado o primário em Mondonio, para onde se havia mudado, Domingos tinha que ir até Castelnuovo duas vezes por dia, ida e volta, o que representava uma caminhada de quase 20 quilômetros diários. Para um menino de 10 anos, e franzino de compleição, era um esforço grande. Mas, movido pelo desejo de estudar para abraçar o sacerdócio, fazia alegremente o sacrifício.
Domingos, por sua inteligência e aplicação, obteve sempre o primeiro lugar na classe, além de outras distinções por seu bom comportamento e pelo cumprimento dos deveres.
Determinado dia, alguns colegas seus encheram de pedras a estufa da classe. Era uma grave falta de disciplina, que merecia como penalidade a expulsão dos infratores. Estes, porém, acusaram Domingos Sávio de ter sido o autor do ato. O mestre, um sacerdote, embora duvidando, teve que ceder ante as evidências que lhe apresentavam. Chamou Domingos, mandou-o ajoelhar-se na frente da classe, e diante de todos os seus colegas passou-lhe um pito, dizendo que só não o expulsava por ter sido sua primeira falta. Domingos abaixou a cabeça e nada disse.
No dia seguinte, descobriu-se a verdade. O sacerdote chamou então Domingos e perguntou-lhe por que não se havia justificado. Ele disse que queria imitar Nosso Senhor, que foi acusado injustamente e não se defendeu. Além do mais, sabia que sua defesa poderia ter causado a expulsão de outros alunos. Como seria sua primeira falta, sabia que seria perdoado.
Domingos Sávio: outro São Luís Gonzaga
Em 1854, Dom Bosco foi procurado por D. Cugliero, professor de Domingos, “para falar-me de um seu aluno, digno de particular atenção por seu engenho e piedade: — ‘Aqui nesta casa (o Oratório de Dom Bosco) é possível que tenhas jovens que o igualem, mas dificilmente haverá quem o supere em talento e virtude. Observa-o, e verás que é um São Luís’”.
Nessa ocasião Dom Bosco tomou conhecimento da existência de Domingos Sávio, que contava 12 anos. Ele assim o descreve: “Era Domingos algo débil e delicado de compleição, de aspecto grave e ao mesmo tempo doce, com um não sei quê de agradável seriedade. Era afável e de aprazível condição, de humor sempre igual. Guardava constantemente na classe e fora dela, na igreja e em todas partes, tal compostura, que o mestre sentia a mais agradável impressão somente com o vê-lo e falar-lhe”.
Conhecendo melhor o novo discípulo ao longo dos anos, afirmou ainda sobre ele Dom Bosco: “Todas as virtudes que vimos brotar e crescer nele, nas diversas etapas de sua vida, aumentaram sempre maravilhosamente e cresceram juntas, sem que uma o fizesse em detrimento de outra”. Era impressionante ver a seriedade com que cumpria com os menores deveres. “No ordinário, começou a fazer-se extraordinário. [...] Aqui teve começo aquela vida exemplaríssima, aquele contínuo progresso de virtude em virtude, e aquela exatidão no cumprimento de seus deveres, que dificilmente se pode avantajar”.
Declaração de guerra: morte ao pecado mortal
A devoção do pequeno Domingos para com Nossa Senhora era extrema. No dia 8 de dezembro de 1854, ano da proclamação do dogma da Imaculada Conceição pelo Bem-aventurado Papa Pio IX, ante o altar da Virgem, ele renovou seus propósitos da Primeira Comunhão e fez esta oração: “Maria, eu vos dou meu coração; fazei com que seja vosso. Jesus e Maria, sede sempre meus amigos; mas, por vosso amor, fazei com que eu morra mil vezes antes que tenha a desgraça de cometer um só pecado”.
Domingos costumava dizer: “Quero declarar guerra de morte ao pecado mortal”
Esse horror ao pecado era muito vivo em Domingos, que costumava dizer: “Quero declarar guerra de morte ao pecado mortal”.
Mas não era só ao pecado mortal. Dizia: “Quero pedir muito, muito, à Santíssima Virgem e ao Senhor que me mandem antes a morte que deixar-me cair em um pecado venial contra a modéstia”.
Isso não se obtém sem uma pureza angélica. Essa virtude terá sido obtida à custa de muita oração e vigilância? Ou, conforme declarou São João Rua, seu condiscípulo no Oratório, no processo de beatificação: “Tenho a convicção de que Domingos, por singular privilégio, não estava sujeito a tentações contra a castidade”.
Desejo intensíssimo de santidade
Seis meses após a entrada de Domingos Sávio no Oratório, Dom Bosco fez aos alunos uma preleção sobre o dever que todos têm de serem santos, e a facilidade que há nisso, caso se busque em todas as coisas a vontade de Deus com toda simplicidade. Isso inflamou beneficamente Domingos Sávio, que foi procurá-lo e disse: “Quero dizer-vos que sinto um desejo e uma necessidade de fazer-me santo. Nunca teria imaginado que alguém pode chegar a ser santo com tanta facilidade; mas agora que vi que alguém pode muito bem chegar a ser santo estando sempre alegre, quero absolutamente e tenho absoluta necessidade de ser santo”.
Procedendo como experimentado diretor espiritual, Dom Bosco relata: “A primeira coisa que lhe aconselhei, para chegar a ser santo, foi que trabalhasse em ganhar almas para Deus, pois não há coisa mais santa nesta vida do que cooperar com Deus na salvação das almas, pelas quais Jesus Cristo derramou até a última gota de seu preciosíssimo sangue”.
Domingos transformou esse conselho em programa de vida, tornou-se um batalhador. “Não deixava passar ocasião de dar bons conselhos e avisar a quem dissesse ou fizesse coisa contrária à santa lei de Deus”. Exclamava: “Quão feliz seria se pudesse ganhar para Deus todos os meus companheiros!”. Dizia também que gostaria muito de reunir as crianças para ensinar-lhes o catecismo. Tinha presente quantas crianças, ao chegar à idade da razão, corrompem-se moralmente e perdem suas almas. A esse propósito, observou: “Quantos pobres meninos se condenam talvez eternamente por não haver quem os instrua na fé!”
Zelo pela conversão da Inglaterra
Seu zelo ia muito além. Não se restringia à sua vida espiritual, seus horizontes eram largos. Várias vezes disse a D. Bosco: “Quantas almas esperam nossos auxílios na Inglaterra! Oh! Se eu tivesse forças e virtude, quisera ir agora mesmo, e com sermões e bom exemplo, convertê-las todas a Deus”. Ele teve mesmo uma visão a esse respeito, e pediu que Dom Bosco a comunicasse ao Papa, quando fosse a Roma.
Afirma São João Rua: “Era verdadeiramente admirável que em um jovenzinho de sua idade reinasse tanto zelo pela glória de Deus, até o ponto de sentir horror e mesmo sofrer fisicamente quando ouvia alguém blasfemar, ou via de qualquer modo ofender-se a majestade de Deus”.
Outro condiscípulo mostra seu amor combativo pela fé, contra as heresias: “Naqueles tempos, mais de uma vez encontrei emissários protestantes vindos expressamente ao Oratório para semear seus erros. E um dos mais solícitos para impedi-los nessa ação era o jovenzinho Domingos Sávio”.
“Sua oração predileta – afirma Dom Bosco – era a coroa ao Sagrado Coração de Jesus para reparar as injúrias que recebe dos hereges, infiéis e maus cristãos”.
Enfim, muita coisa poder-se-ia ainda dizer sobre São Domingos Sávio, que ultrapassaria os limites deste artigo. Ele faleceu santamente no dia 9 de março de 1857 aos 15 anos de idade. E Dom Bosco tinha tanta certeza de sua santidade e futura canonização, que, num epitáfio que lhe escreveu, diz: “[...] Os que, havendo experimentado os efeitos de sua celestial proteção, gratos e ansiosos, esperam a palavra do oráculo infalível de nossa Santa Mãe a Igreja”.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

CATEQUESE E QUERIGMA

CATEQUESE E QUERIGMA

RESUMO

Na revista de catequese n° 129. Janeiro/Março 2010, Dom José Antonio Peruzzo relata do que a palavra QUERIGMA fala: O termo “querigma” é uma derivação do verbo grego Keryssein (pregar, proclamar, tornar conhecimento) e designa, já desde os primeiros dias cristianismo, o núcleo centra da “boa noticia” da salvação de Jesus Cristo. É o primeiro anúncio do Evangelho, cuja essência é proclamar um grande acontecimento de salvação, o homem Jesus de Nazaré é o filho de Deus, que assumiu inteiramente a carne humana, que abraçou a cruz, morreu e ressuscitou para a salvação de todos. Manter o vigor da adesão à pessoa de Jesus como Senhor e Salvador, de modo que os novos aderentes recebam dele o sentido para a própria vida e, com Ele, participem da vitória sobre o mal e a morte, e alcancem a vida eterna.
Um exemplo bíblico, fortemente evocativo a ser lembrado é de At 2,37. Após as palavras de Pedro, o autor ilustra a reação dos ouvintes: “Ouvindo isto, eles sentiram o coração trespassado e perguntaram a Pedro e aos demais discípulos: Que devemos fazer”?
O Papa Bento XVI fala, “ao inicio do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mais o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. Seu anúncio pode ser comparado ao grito do mensageiro que proclama uma vitória sem precedentes.
Alguns exemplos dos apóstolos podem ajudar. Pode-se começar com o que aconteceu no dia de Pentecostes: “Pedro, então, de pé, junto com os onzes, levantou a voz e lhes falou: ‘Homens da Judéia e todos vós...’ (At 2,14)”. Diante da multidão Pedro dá a “boa noticia” da salvação em Cristo, buscando conferir-lhe grande publicidade.
Todavia, o querigma não é um dado constitutivo da evangelização que pertence apenas ao passado. Como ontem. Também hoje o anúncio da “boa noticia” tem sentido se destinado a provocar alguma reação nos homens do nosso tempo. Entre os primeiros cristãos o anúncio do nome de Jesus Cristo não era apenas informação sobre um personagem da sua história recente, mas era palavra portadora da vida nova do Ressuscitado, e quem a acolhia, acolhia a pessoa e a vitória Jesus. Não é possível evangelização não querigmatica, não pode faltar esta característica à nossa catequese. Além de manter e consolidar a fé já presente, há que “suscitar o desejo” e propor a radical novidade do Evangelho. “Não temos de dar nada como pressuposto ou descontado. Todos os batizados são chamados a recomeçar a partir de Cristo”
O Dom José Antonio Peruzzo nessa mesma edição fala da Necessidade de uma Catequese Querigmatica; A inexorável ‘mudança de época apresenta exigência das quais não podemos nos esquivar quando se trata da transformação da fé. A pastoral de conservação já não é suficiente para suscitar encanto’. Até pouco tempo aceitava-se que a apresentação e transmissão da fé podia seguir um caminho ascendente, ou seja, quando se tratava de catequese, esta podia da experiência e da vida dos catequizando. Supunha uma realidade fundante de fé e de experiências religiosas já presentes e de algum modo radicadas (família/comunidade).
A vida ascendente parte da percepção, em si mesma correta, de que Cristo, em tudo Deus e homem, realiza em sua pessoa as aspirações mais elevadas do coração humano. Com Jesus e como Jesus, cada seguidor pode conhecer que está radicamente voltado para a infinitude, e cada crente vislumbra que somente alcançar sua plenitude de vida no encontro definitivo com Deus.
Os desejos mais profundos, os anseios mais vitais, as mais radicais inquietações, tudo é linguagem explicita ou implícita desta busca de totalidade. A educação da fé, neste caso, consiste em pôr em relação a revelação (Deus em busca do homem) e a Experiência religiosa humana (o homem à procura de Deus). Todavia, este é um caminho que requer reflexão e interpretação para que confia sentido a vivência do indivíduo e suscite uma espécie de memória viva.
Jesus pode se tornar somente um modelo de vida ou uma força suplementar. Sim, pois que já se difunde na mentalidade pós-moderna o pensamento de que está ao alcance do homem ser muito humano até mesmo sem Deus. Hoje, tornou-se possível ser uma pessoa de atitudes humanamente elevadas sem necessariamente ter encontros com o mistério.
O esforço de reflexão e interpretação, por mais elevado que seja, não atende suficientemente, uma vez que Deus “ultrapassa infinitamente o ser humano”(Pascal). Nele o mistério e o amor de Deus superam infinitamente toda a expectativa humana. Em teologia se afirma que o melhor caminho do ser humano até Deus é aquele percorrido por Deus até o ser humano, ou seja, Jesus Cristo.
Não se trata, pois, de uma fé adquirida, imposta ou herdade. Ademais, nem sempre há garantias ou segurança de êxito. O próprio Jesus conheceu situações semelhantes: uns o seguiram (Mc 1, 16-20): outro, a quem Jesus “fitou e o amou” , retirou-se pesaroso (Mc 10, 21-22). Outro até o traiu.
Caminhos a Percorrer a ressurreição de Jesus e o seu encontro com o Ressuscitado foi para as mulheres e para os apóstolos uma experiência tão surpreendente, tão nova e forte que seu anúncio tornou-se o modelo fundamental da fé e do anúncio cristão. Os Evangelhos narram que ele se lhes fizera ver. Mas aqueles primeiros cristãos, os que aderiam a Jesus Cristo mediante o anúncio dos apóstolos, não dispunham de nenhuma certeza a não ser a palavra, o testemunho e a paixão com que lhes era proclamado o nome de Jesus Cristo.
È uma exigência e uma necessidade que a palavra do Evangelho se torne palavra encarnada na vida daqueles que abraçaram missionariamente. Somente comunicam Jesus Cristo os que estão “tomados” por ele. Por isso mesmo, em tempos de “mudanças de época”, tanto a catequese como outras dimensões evangelizadoras da Igreja, são interpeladas a se “deixar ensinar”, de modo fortemente matizador, por tudo quanto viveram, experimentaram e fizeram aqueles cristãos da primeira hora.

sábado, 12 de junho de 2010

Santa Margarida Maria Alacoque



Santa Margarida Maria Alacoque nasceu na aldeia de Lautecour, na Borgonha, no dia 22 de Julho de 1647, no seio duma família religiosa, honesta, de boa posição, reputação e de seriedade. Seu pai, Claude Alacoque, era notário real. Sua mãe, Philiberte Lamyn era filha também dum notário do rei, François Lamyn.



Horror ao pecado

Os seus pais perceberam logo o horror que Margarida Maria tinha pelo pecado quando ainda era pequena de três anos. Bastava lembrar-lhe que um ato qualquer ofendia a Deus para que a menina se afastasse horrorizada. Nas suas memórias a Santa afirma que Deus lhe fez ver “o grande horror do pecado, o que me horrorizou tanto que a mais mínima mancha resultava para mim num tormento insuportável.” (1)

A essa aversão ao pecado acrescentou-se logo um agrado muito grande pela oração e pela penitência, juntamente com uma tendência enorme para ajudar os pobres. “Deus, escreve a Santa, deu-me um amor tão terno pelos pobres que eu teria desejado só ter contato com eles. Ele incutiu-me uma compaixão tão grande pelas suas misérias que, se estivesse em meu poder, abandonaria tudo por eles. Quando tinha dinheiro, dava-o aos pobres para os estimular a aproximarem-se de mim e então ensinava-lhes o Catecismo e a rezar.” (2)

Dos quatro aos sete anos, ou seja entre 1652 e 1655, seguindo um costume comum na época, foi morar no castelo de sua madrinha, Madame de Corcheval, dama nobre da região. Ali, num ambiente sereno e austero, começou a sua formação.

Duas senhoras ocupavam-se da sua educação. Uma era simpática e gentil. Margarida Maria, porém, fugia dela. A outra era severa e impertinente. Curiosamente Margarida sentia atração por esta última. Ninguém conseguia compreendê-lo. Mais tarde perceberam que este fato era mais um sintoma de que a proteção divina pairava sobre a menina. A primeira senhora levava uma vida irregular; a segunda era de uma conduta sem mancha. Nisto se manifestava o seu horror instintivo ao pecado.

A sua educação teve de ser interrompida quando morreu Madame de Corcheval. A sua afilhada tornou à casa paterna. Mas em 1655, no mesmo ano da morte de sua madrinha, falece também o seu pai. A mãe, com o objetivo de melhorar a situação patrimonial que o marido deixara complicada, e não dispondo do tempo necessário para providenciar a educação da filha, mandou-a como pensionista para um convento de Clarissas, o que era muito freqüente então.

No silêncio dos claustros, refletindo durante longas horas no recolhimento e observando a modéstia e o espírito de oração das irmãs, Margarida sentiu o chamamento à vida religiosa. Foi ali onde, por volta dos nove anos, recebeu pela primeira vez Jesus Sacramentado. A partir de então, as graças na oração e o seu gosto pelo recolhimento aumentaram sensivelmente.

A jovem Margarida Maria tinha de completar junto às Clarissas a educação que recebia habitualmente uma menina de sua condição para ser mãe de família e também dama de sociedade. Isto significava uma sólida formação moral, na qual se punha especial cuidado nos hábitos de modéstia, discrição e domínio de si mesma.

Tal educação completava-se com o ensino da arte da conversa, música, pintura, dança... que desenvolviam a delicadeza, o tato, o bom gosto. Dessa forma florescia nas pensionistas o sentido da proporção, da naturalidade bem educada, ao mesmo tempo que recebiam uma capacidade de julgar as pessoas e os fatos.


Judiciosa, sensata e caritativa

O seu espírito equilibrado e alguns traços da educação recebidos por Santa Margarida Maria foram entendidos mais tarde pela Madre Greyfié, uma das suas superioras em Paray-le-Monial, que a descreveu assim: “Era naturalmente judiciosa, sensata e tinha um espírito bom, humor agradável e o coração mais caritativo que se possa imaginar; numa palavra pode dizer-se que era uma criatura das mais aptas para ter êxito em tudo.” (3)

No pensionato das Clarissas, Margarida Maria contraiu uma doença grave, pelo que foi preciso reenvia-la à casa da mãe. Ali permaneceu cerca de quatro anos prostrada na cama, sem conseguir levantar-se. Deus Nosso Senhor visitava-a com o sofrimento. Só em 1661 recuperou a saúde depois de fazer um voto à Santíssima Virgem.

Na sua casa, outra situação muito dolorosa a aguardava. Sua mãe tinha transferido a gestão do patrimônio a um cunhado, Toussaint Delaroche, homem avaro e de temperamento irritável. A Santa suportou durante anos a quase escravidão a que a submetiam as injustiças do tio. Às vezes tinha de mendigar pão ao vizinho. A casa materna transformou-se então numa prisão torturante. “Não tínhamos já nenhum poder em casa e não ousávamos fazer nada sem seu consentimento”, escreveu a Santa. Passava horas num canto do jardim a rezar ou refugiava-se na capela da aldeia. Mas nem sequer lá encontrava repouso: o tio acusava-a de sair de casa para ver os rapazes. “Às vezes os pobres da aldeia, por compaixão, davam-me um pouco de pão, de leite ou alguma fruta na parte da tarde”. (4)


Reparação, desagravo, amor à Cruz

Deus permitia esses sofrimentos para a preparar para a vida de renúncia e expiação que depois abraçaria com entusiasmo. Santa Margarida Maria devia pregar a devoção da reparação o do desagravo
ao Sagrado Coração de Jesus; precisava ser um modelo dessa atitude de alma. Os sofrimentos desta etapa da sua vida, aceites com paciência exemplar, fortificaram-na para a vida de reparação que a Providência tinha escolhido para ela. Durante este período a Santa recebeu graças místicas extraordinárias. Além disso, já desde muito pequena, teve um trato muito familiar com Nosso Senhor. “(O Salvador) sempre estava presente sob a figura do crucificado ou do Ecce Homo a carregar a Cruz, o que me produzia tanta compaixão e amor ao sofrimento, que todos
os meus sofrimentos pareciam leves em comparação com o desejo que experimentava de sofrer para me conformar com o meu Jesus sofredor.” (5)

Tal compreensão do valor do sofrimento na vida espiritual foi crescendo nela e será uma das características da sua santidade. Mais tarde, já visitandina, esta pioneira dos caminhos de Deus, dirá: “Deus deu-me tanto amor à Cruz que não consigo viver um momento sem sofrer: mas sofrer em silêncio, sem consolo, alívio ou compaixão; e morrer com este Soberano da minha alma, sob o peso de toda sorte de opróbrios, dores, humilhações, esquecimentos e desprezos...” (6)

O amor à Cruz foi característico em Santa Margarida Maria e é também condição indispensável de qualquer forma de santidade: “Jesus disse então aos discípulos: se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome sua Cruz e siga-me.” (Mt. 16,24)


Provações familiares

A sua família, de início, quis encaminha-la para um convento de Ursulinas onde já vivia uma prima. Santa Margarida Maria – que era muito afeiçoada a essa prima, deu-lhe uma resposta gentil em que transparece o seu grande desejo de perfeição: “Olha, se entro no teu convento será por amor a ti. Mas quero ir a um convento onde não tenha parentes nem conhecidos para ser religiosa só por amor a Deus.” (7)

Uma voz interior tinha-lhe advertido: “Não te desejo lá, mas em Santa Maria”, que era o nome do convento de Paray-le-Monial. (8)

Entretanto as pressões familiares para que optasse pelas Ursulinas continuavam. Mas uma doença da mãe e também de um irmão, forçaram-na a prolongar os seus planos de vida religiosa.

Numa certa altura, um sacerdote franciscano hospedou-se na casa dos Alacoque durante uma missão. Santa Margarida Maria aproveitou a ocasião para fazer uma confissão geral. Ao conhecer o alto grau de virtude e os desejos de vida religiosa da jovem, o padre julgou que devia seguir a sua vocação. O religioso falou com o irmão e convenceu-o a mudar de atitude. A prova em casa acabava. Outras cruzes, mais dolorosas, viriam no Convento da Visitação de Paray-le-Monial, aonde foi ter em seguimento de uma clara inspiração da Providência.

A nossa Santa foi ali aceita como noviça a 20 de Junho de 1671; vestiu o hábito a 25 de Agosto do mesmo ano e fez a profissão solene a 6 de Novembro de 1672. Assim ficava preparado o quadro para a mensagem do Sagrado Coração de Jesus.


A missão de Santa Margarida Maria Alacoque

Em 1647, quando nasceu Santa Margarida Maria, a devoção ao Sagrado Coração não era muito conhecida, se bem que já existia. A sua missão foi dar-lhe um impulso e uma difusão universal, precisar o seu espírito, adapta-lo às necessidades da Igreja nos tempos modernos e fixar as práticas de piedade mais adequadas às novas circunstâncias.

Santa Margarida Maria foi uma simples freira que nunca transpôs os muros do seu convento e morreu antes de completar 45 anos, em 1690. A Providência compraz-se deste modo em realizar um desígnio imenso a partir de uma humilde religiosa que, para fugir do mundo, tinha-se retirado a um obscuro convento da Ordem da Visitação e levou ali uma vida apagada aos olhos dos homens e até das freiras visitandinas com as quais convivia.
O quadro hoje é completamente diverso. Ornato da Ordem da Visitação, a religiosa então apagada foi elevada ao ápice de glória na Igreja e, do alto dos altares, da sua santidade despede raios de salvação à terra inteira, enquanto a maioria dos homens famosos e importantes da sua época são desconhecidos pelos nossos contemporâneos.

O Papa Pio XII, depois de fazer a lista dos Santos que a precederam na prática e difusão da devoção ao Coração de Jesus, diz a este propósito: “Mas entre todos os promotores desta excelsa devoção, merece um lugar especial Santa Margarida Maria Alacoque que, com a ajuda do seu diretor espiritual, o Beato Cláudio de la Colombière (hoje santo) e com o seu zelo ardente, obteve, não sem a admiração dos fiéis, que este culto adquirisse um grande desenvolvimento e, revestido das características do amor e da reparação, se distinguisse das demais formas da piedade cristã.”



INTRODUÇÃO



A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é uma das expressões mais difundidas da piedade eclesial, tal como refere recentemente o “Directório sobre a Piedade Popular e a Liturgia” da Congregação para o Culto Divino. Os Pontífices romanos têm salientado constantemente o sólido fundamento na Sagrada Escritura desta maravilhosa devoção.



Como conseqüência das aparições de Nosso Senhor a Santa Margarida Maria Alacoque no mosteiro de Paray-le-Monial a partir de 1673, este culto teve um incremento notável e adquiriu a sua feição hoje conhecida. Nenhuma outra comunicação divina, fora as da Sagrada Escritura, receberam tantas aprovações e estímulos da parte do Magistério da Igreja como esta.

Entre os documentos mestres nesta matéria encontramos a encíclica de Pio XII, Haurietis aquas, de 15 de Maio de 1956. Pio XII salienta que é o próprio Jesus que toma a iniciativa de nos apresentar o Seu Coração como fonte de restauração e de paz: “Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mt. 11, 28-30)

Não é por acaso que as aparições a Santa Margarida Maria deram-se num momento crucial em que se pretendia afirmar secularização e que a devoção ao Sagrado Coração apareceu sempre como o mais característico de todos os movimentos que resistiram à descristianização da sociedade moderna.