| Uma única palavra resume as relações de Deus com a humanidade:   Aliança. No centro do plano divino está a vontade de selar um pacto de amor   com as criaturas. O deus absoluto e todo poderoso, o único, o Ser necessário   e totalmente transcendente quer comunicar-se, deseja estabelecer um diálogo   com o ser humano. Deus nos criou para nos transmitir seus bens. Não permanece   longe, mas vem até nós para doar-se. A criação inteira é fruto dessa vontade   de amor. Deus cria por amor e para amar. É o único motivo. Por isso cria o   homem à sua imagem e semelhança, capaz de dialogar, de responder a seu   convite para amar, para doar-se.  Toda a história da Bíblia é a história dessa aliança de amor. E essa   história, para ser construída, requer sempre, a iniciativa de Deus e a   resposta do homem. A Bíblia nos mostra a liança de Deus com Adão e Eva, com   Noé, com Abraão, com Moisés, com todo o povo de Israel. Deus chama o homem   com um amor gratuito, mas convoca-o a experimentar este amor e ser   instrumento dele para que outros o experimentem também. A história da   Salvação é toda tecida desta cooperação constante entre Deus e os homens.
 
 O que assombra o ser humano é o fato de, ao mesmo tempo que experimentam a   grandeza infinita de Deus, percebem que o Deus infinito quis necessitar de   sua cooperação para a realização de seus planos de amor. Quis ser um com ele,   e realizar uma obra de amor com a sua cooperação. Foi assim que Moisés se   assombrou. Veja êxodo 3,1-12. E Moisés teve medo. Veja êxodo 4,1-18. Deus   quer que o homem capte as suas demonstrações de amor e que assuma um   compromisso com Ele. À sua ação deve se seguir uma reação do homem. Ele quer   ser ouvido e seguido.
 
 Desde que Deus criou o homem, este é convidado a viver esta aliança de amor,   e ser cooperador dele. Se voltarmos ao Gn 1,28 veremos este convite feito ao   primeiro homem e à primeira mulher. Mas se formos ao Gn 3,1-19 veremos que desde   o princípio a história da humanidade está marcada pela infidelidade à esta   aliança de amor. Veremos também que há um ser pervertido e perversor, um anjo   decaído, o demônio, que vive a tentar o homem para que este quebre sua   aliança com Deus.
 
 Nossa Senhora jamais quebrou esta aliança, ao contrário, foi fiel ao convite   de deus desde o princípio. Ontem vimos que a sua resposta ao convite para ser   a Mãe do filho de Deus foi: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim   segundo a tua palavra"(Lc 1,38). E este sim foi repetido durante toda a   sua vida, nos momentos mais difíceis: quando teve de dar à luz num estábulo,   quando teve que fugir para o Egito para que o menino não fosse morto pelo rei   Herodes, e principalmente quando teve de vê-lo morrer numa Cruz, incompreendido   por aqueles a quem amava, e por quem entregara toda a sua vida.
 
 Um grande segredo de amor envolvia esta fidelidade de Maria na sua aliança   com Deus, a sua cooperação incondicional com a Graça divina: Humildade e   Confiança. Maria se fez sempre pequena serva. Não se arrogou de direitos, não   desejou fazer valer uma pretensa justiça humana. Orgulhosos que somos,   basta-nos muito pouco para nos julgarmos justos e merecedores de grandes   favores de Deus e dos irmãos. Basta-nos um pouco de autoconfiança, muito   pouco mesmo, para nos compararmos e considerarmos os que estão ao nosso lado   como irresponsáveis, incompetentes e inféis. Basta-nos que Deus nos peça um   pouco de sacrifício ou de sofrimento, para tantarmos o mais rápido possível   do nosso fardo jogando-os nas costas dos outros. Basta-nos a nossa vida, os   nossos problemas, as nossas feridas, para não enxergarmos os problemas nem as   feridas dos irmãos, e nos tornarmos terríveis carrascos deles. Maria foi o   anti-orgulho. Não se arvorou de muita coisa por que Deus lhe chamou para ser   mãe do Seu Filho. Se tivesse sentido orgulho, provavelmente teria chamado   Isabel para serví-la, e não teria atravessado o deserto para servir sua   prima. Teria se achado o centro, a digna de ser ajudada, e nem teria percebido   que neste exato momento era a sua prima que necessitava de sua ajuda. Maria   não era centrada em si, mas em Deus e na sua vontade.
 
 Maria não vivia em torno de si mesma, e dos seus pequenos sonhos e planos,   mas em torno de Deus e da sua vontade. Maria não tentava misturar o que era   sua vontade, com a vontade de Deus, mas abandonava inteiramente sua vontade   em prol de fazer a vontade de Deus. Por isto era capaz de captar as   necessidades dos irmãos, e ao contrário de colocar fardos nos ombros dos   outros, os tirava. Maria não se fez Rainha, por isto Deus a fez Rainha.
 
 Maria confiou em Deus. Não colocou sua confiança em pessoas, em coisas, em   títulos, em elogios, em confirmações que viessem dos outros. Maria   simplesmente deu o seu ser para que nela se cumprisse a vontade de Deus:   " Faça-se em mim", ela disse. Maria buscava veeementemente a   vontade de Deus para si, e sabia que esta vontade sempre exigiria dela   abandonar seus próprios planos. Ela sabia que Deus tem a última palavra em   tudo, e via em tudo a vontade de Deus, e não a dos homens. Tudo vinha de   Deus. Nós somos idólatras de nós mesmos e dos nossos irmãos. Não confiamos   suficientemente em deus, e por isso sempre esperamos nas criaturas. E nos   decepcionamos, porque elas não são deuses. Nós fabricamos ídolos, para que   estejam ao redor de nós, a fim de nos servir quando precisamos. E nos   decepcionamos. Não vamos para Deus, porque no fundo sabemos que ele não fará   a nossa vontade, não nos fará de crianças, mas quer formar pessoas maduras,   que escolham unicamente ele e a sua vontade. Quer que estejamos sós diante   dele para dizer o nosso sim sem contar que seja outro e não nós a levar o   momento sacrificado do nosso sim. Por isso nos tira as pessoas. Por isso   muitas vezes nos faltou, nos falta, e nos faltarão a compreensão dos pais,   dos amigos, dos irmãos mais queridos. Tudo para que esperemos só em Deus, e   nos dirjamos aos irmãos sem interesse próprio algum, mas unicamente para   serví-los, para amá-los gratuitamente. Assim fez Maria visitando Isabel.
 
 E foi porque se desprendeu das criaturas, e disse seu sim com total humildade   e confiança, que Maria recebeu de Deus a confirmação que lhe veio pelos   lábios de Isabel: "Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto   do teu ventre"(Lc 1,42). Se escutássemos hoje de Deus estas palavras:   "Bendito ou bendita és tu, benditas são os frutos das tuas obras, do teu   sim a Deus", seríamos curados num instante de toda auto-imagem negativa.   Porém, para escutar estas palavras, é preciso antes escutar e dizer sim à   vontade de Deus para nós. Somente no centro da vontade de Deus está a nossa   cura, a nossa libertação. Somente clamando antes a Deus a graça de   esquecermos de nós mesmos, das exigências e queixas que por tantos anos   guardamos em relação aos nossos pais e irmãos, somente se estivermos   dispostos a nos despojar da criança mimada e egoísta que há dentro de nós, é   que poderemos experimentar a cura da nossa auto-imagem negativa, e enfim   poderemos cantar como Maria: "Minha alma glorifica ao Senhor, meu   espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador, porque olhou para seu pobre   servo, ou sua pobre serva (Maria representa todas as criaturas na sua   fragilidade humana). Por isto desde agora me proclamarão bem aventurado ou   bem aventurada, todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele   que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração   em geração sobre os que o temem"(Lc 1,46-50).
 
 Maria sempre experimentou, em todas as situações, a gratuidade do Seu amor   por ela. E ela também era gratuita no seu amor a Deus. Fazera vontade de   Deus, ser fiel a Deus nunca foi para ela motivo de exigir que Deus a   recompensasse com mimos. Não demos a vida a nós mesmos. Nada temos por nós   mesmos. Tudo na nossa vida é um presente de Deus. A nossa vida é um grande   presente de Deus. As alegrias, as tristezas, são um presente de Deus, às   vezes misteriosos, mas que um dia compreenderemos. não é necessário   compreender, mas aceitar com humildade e confiança que tudo é um presente de   amor de Deus. Deus está por trás de todos os acontecimentos de nossa vida. Há   coisas que nos sucederam que ele não gostaria que fosse assim, mas permitiu.   A nossa liberdade, ou a de nossos irmãos foi mal usada, mas Ele é Deus, capaz   de transformar todas as coisas porque nos ama. Isto não é desculpa para   permanecermos crianças mimadas e insistentes em nossos planos egoístas,   porque quando nos afastamos da vontade de Deus, embora ele continue nos   amando, não conseguimos perceber isto, e podemos jogar fora a nossa união   definitiva com Ele. Isso é muito sério. Podemos optar pelo inferno, e isto   Ele não vai impedir. Embora Ele esteja trabalhando sempre pela nossa   salvação, esta é uma opção nossa, que Ele não vai impedir.
 
 Precisamos pedir a Deus a cura para nossas feridas, mas precisamos pedir a Deus   acima de tudo a Sua Graça, que é o maior presente. Foi pela Graça de Deus que   Maria realizou a vontade de Deus para sua vida, e todos nós somos hoje   beneficiados. Precisamos louvar a Deus porque Maria o amou antes de si mesma   e antes de todas as criaturas. Ela sempre escolheu Deus e a sua vontade.   Maria não se sentia uma pessoa nula, péssima, mal amada. Ela não sofria de   auto imagem negativa. os olhos dela nunca estiveram nela mesma ou em seus   traumas, mas estavam postos na grande bondade de Deus. estava sempre a   recordar suas maravilhas, e aquilo que de doloroso lhe sucedia era recebido   no silêncio e na humildade, mas especialmente na confiança de que Deus é   sempre amor. Peçamos hoje a Maria a Graça de sermos tirados do centro de nós   mesmos, e assim curados na nossa auto imagem. peçamos a Maria, que ela   "arranque" do coração de Deus a Graça de termos unicamente Deus   como centro de nossas vidas. Que todas as dores, as mágoas, as feridas, os   sentimentos de incapacidade, de ser desprezado, não amado, tudo isto seja   colocado no coração de Maria, que está sempre unido ao coração de Jesus e do   Pai. E que hoje, o fogo do espírito santo possa queimar tudo isto e nos dar   um auto imagem nova, límpida, resplandescente, e possamos dizer com ela:   "Realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é   Santo" (Lc 1,49).
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