Estamos em Cesareia de Filipe. Jesus quer medir o “termômetro” sobre Si, então pergunta aos Seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Um profundo silêncio se espalha entre eles e, num tom celestial, Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Jesus ganha um adjetivo. Ele é o Cristo, o Ungido. O termo deriva do fato de, no Antigo Testamento, os reis, profetas e sacerdotes, no momento de sua eleição, serem consagrados mediante uma unção com óleo perfumado. Cada vez mais claramente, na Bíblia, fala-se de um Ungido ou Consagrado especial que virá, nos últimos tempos, para realizar as promessas da salvação de Deus a seu povo.
Toda a tradição primitiva da Igreja é unânime ao proclamar que Jesus de Nazaré é o Messias esperado. Ele mesmo, segundo Marcos, se proclamará tal ante o Sinédrio. À pergunta do sumo sacerdote: “És tu o Cristo, o Filho do Bendito?”, Ele responde: “Sim, eu o sou”.
Jesus aceita ser identificado com o Messias esperado, mas não com a ideia que o Judaísmo havia construído sobre o messias. Na opinião dominante, este era visto como um líder político e militar que livraria Israel do domínio pagão e instauraria, pela força, o Reino de Deus na Terra.
Jesus teve de corrigir, profundamente, esta ideia compartilhada por Seus próprios apóstolos antes de permitir que se falasse d’Ele como Messias. A isso se orienta o discurso que segue imediatamente: “E começou a ensiná-los que o Filho do Homem devia sofrer muito…” A dura palavra dirigida a Pedro, que busca dissuadi-Lo de tais pensamentos: “Afasta-te de mim, Satanás!” é idêntica à dirigida ao tentador do deserto. Em ambos os casos, tratam-se, de fato, do mesmo objetivo de desviar-lhe do caminho que o Pai lhe indicou, o do Servo sofredor de Javé, por outro que é segundo os homens, não segundo Deus.
Lamentavelmente, temos de constatar que o erro de Pedro se repetiu na história. Também determinados homens e mulheres da Igreja se comportaram – em certas épocas – como se o Reino de Deus fosse deste mundo e como se fosse necessário afirmar-se com a vitória sobre os inimigos, em vez de fazê-lo com o sofrimento e o martírio.
Todas as palavras do Evangelho são atuais, mas o diálogo de Cesareia de Filipe o é de forma todo especial. A situação não mudou. Também hoje, sobre Jesus há as mais diversas opiniões das pessoas: um Profeta, um grande Mestre, uma grande Personalidade. Converteu-se numa moda apresentá-Lo nos espetáculos e nas novelas, nos costumes e com as mensagens mais estranhas.
No Evangelho, Jesus não parece se surpreender com as opiniões das pessoas nem se preocupa em desmenti-las. Só propõe uma pergunta aos discípulos e, assim, o faz também hoje: “Para vós, para você, quem sou eu?”. Existe um salto por dar que não vem da carne nem do sangue, mas que é dom de Deus e é preciso acolhê-lo.
A cada dia, há homens e mulheres que dão este salto. Às vezes, trata-se de pessoas famosas – atores, atrizes, homens de cultura – e, então, são notícia. Mas infinitamente mais numerosos são os crentes desconhecidos. Em certas ocasiões, os não-crentes interpretam estas conversões como fraqueza, crises sentimentais ou busca de popularidade e pode dar-se que, em algum caso, seja assim. Mas seria uma falta de respeito à consciência dos outros arrojar descrédito sobre cada história de conversão.
Uma coisa é certa: os que deram este salto não voltarão atrás por nada deste mundo. Mais ainda: surpreendem-se de ter podido viver tanto tempo sem a luz e a força que vem da fé em Cristo. Como São Hilário de Poitiers, que se converteu sendo adulto, estão dispostos a exclamar: “Antes de conhecer-te, eu não existia”.
Tenho de proclamar o Seu Nome: Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo! Foi Ele quem nos revelou o Deus invisível. É Ele o Primogênito de toda a criação, é n’Ele que todas as coisas têm a sua subsistência. Ele é o Senhor da humanidade e o Seu Redentor que nasceu, morreu e ressuscitou por nós.
Ele é o centro da história do mundo. Conhece-nos e nos ama. É o companheiro e amigo da nossa vida, o homem das dores (Is 53,3) e da esperança. É Aquele que há de vir, que será finalmente o nosso Juiz e também – assim confiamos – a nossa vida plena e a nossa beatitude.
Padre Bantu Mendonça
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