quinta-feira, 28 de outubro de 2010

1. Corrigir Publicamente


Corrigir publicamente uma pessoa é o primeiro pecado capital da educação. Um educador jamais deveria expor o defeito de uma pessoa, por pior que ele seja, diante dos outros. A exposição pública produz humilhação e traumas complexos difíceis de serem superados. um educador deve valorizar mais a pessoa que erra do que o erro da pessoa.

Os pais ou professores só devem intervir publicamente quando um jovem ofendeu ou feriu alguém em público. Mesmo assim, devem agir com prudência para não colocar mais lenha no calor das tensões.

Havia uma adolescente de doze anos, esperta, inteligente, sociável, que estava um pouco obesa. Aparentemente ela não tinha problema com sua obesidade. Era uma boa aluna, participativa e respeitada entre seus colegas.

Certa vez, sua vida sofreu uma grande guinada. Ela foi mal numa prova. Procurou a professora e questionou a sua nota. A professora, que estava irritada por outros motivos, desferiu-lhes um golpe mortal que modificou para sempre a sua vida, chamando-a de “gordinha pouco inteligente” na frente dos colegas.

Corrigir alguém publicamente já é grave, humilhar é diminuída, inferiorizada, e chorou. Viveu uma experiência com alto volume de tensão que foi registrada privilegiadamente no centro da memória, na memória de uso contínuo (MUC).

Se considerarmos a memória como uma grande cidade, o trauma original produzido pela humilhação da professora foi como uma casa de favela edificada num belo bairro. A jovem leu continuamente o arquivo que continha esse trauma e produziu milhares de pensamentos e reações emocionais de conteúdo negativo, que foram registrados novamente, expandindo a estrutura do trauma. Desde modo, uma “casa de favela” na memória pode contagiar um arquivo inteiro.

Portanto, não é o trauma original que se torna o grande vilão da saúde psíquica, como Freud pensava, mas a realimentação dele. Cada gesto hostil das outras pessoas era relado tempo, ela produziu milhares de casas de favelas. Onde havia um belo bairro no inconsciente foi se criando um terreno desolado.

Os adolescentes devem se sentir bonitos, mesmo que sejam obesos, portadores de um defeito físico, ou se seu corpo não preenche os padrões de beleza transmitidos pela mídia. Beleza está nos olhos de quem vê.

Mas, infelizmente, a mídia massacrou os jovens definindo o que é beleza no inconsciente deles. Cada imagem dos modelos nas capas das revistas, nos comerciais e nos programas de TV é registrada na memória, formando matrizes que discriminam quem está fora do padrão. Este processo aprisiona os jovens, mesmo os mais saudáveis. Quando estão diante do espelho, o que é que eles observam? Suas qualidades ou seus defeitos? Frequentemente, seus defeitos. A mídia aparentemente tão inofensiva discrimina os jovens da mesma maneira como os negros foram e ainda são discriminados.

Gostaria que vocês não se esquecessem de que é através desse processo que uma rejeição vira um monstro, um educador tenso vira um carrasco, um elevador vira um cubículo sem ar, um vexame público paralisa a inteligência e gera o medo de expor as idéias.

A adolescente de nossa história começou cada vez mais a obstruir sua memória pela baixa auto-estima e sentimento de incapacidade. Deixou de tirar notas boas. Cristalizou uma mentira: que não era inteligente. Teve várias crises depressivas. Perdeu o encanto pela vida. Com dezoito anos, tentou o suicídio.

Felizmente, não morreu. Procurou tratamento e conseguiu superar o trauma. Essa jovem não queria matar a vida. No fundo, como toda pessoa depressiva, ela tinha fome e sede de viver. O que ela queria era destruir sua dramática dor, desespero e sentimento de inferioridade.

Chamar a atenção ou apontar em público um erro ou defeito de jovens e adultos pode gerar um trauma inesquecível que os controlará durante toda a vida. Ainda que os jovens os decepcionem, não os humilhem. Ainda que eles mereçam uma grande bronca, procurem chama-los em particular e corrigi-los. Ma, principalmente, estimulem os jovens a refletir. Quem estimula a reflexão é um artesão da sabedoria.

Autor: Auguste Cury

Aspirante Salesiano 2010, Victor Rafael

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