quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ser padre é ser ponte


É um título que me entusiasma, porque não há tarefa mais formosa do que dedicar-se a estender pontes entre os homens e as coisas. Sobretudo num tempo em que são abundantes os construtores de barreiras. Num mundo de tantas valas, que coisa melhor do que dedicar-se a superá-las?

Mas fazer ponte – e sobretudo fazer de ponte – é uma tarefa muito dura. Não se faz sem muito sacrifico. Uma ponte é alguém fiel às duas margens, mas que não pertence a nenhuma delas. Quando se pede a um padre que seja ponte entre Deus e os homens, quase se está a obrigar a ser um pouco menos homem, a renunciar provisoriamente a sua condição humana para intentar esse duro ofício de mediador e de transportador de margem a margem.

Se a ponte não pertence por inteiro a nenhuma das margens, tem de estar firmemente assente em ambas elas. Não é margem, mas apoia-se nelas, é súbita de ambas, depende de uma e de outra. Ser ponte é renunciar a toda a liberdade pessoal. Só se serve quando se renunciou.

É lógico que sai muito caro servir de ponte. É um ofício pelo qual se paga muito mais do que se recebe. Uma ponte é fundamentalmente alguém que suporta o peso de todos os que passam por ela. A resistência, a solidez, são as suas virtudes. Numa ponte conta menos a beleza e a simpatia – embora seja muito bela uma ponte formosa -; conta sobretudo a capacidade de serviço, a utilidade.

Uma ponte vive no desagradecimento: ninguém fica a viver numa ponte. Usa-se para passar, e Pára-se na outra margem. Quem quiser carinhos escolha outra profissão. O mediador acaba a sua tarefa quando mediou. A sua tarefa posterior é o esquecimento. Uma ponte é até a primeira coisa a ser bombardeada numa guerra. Por isso está o mundo cheio de pontes destruídas

Realmente ser padre é tocar no ceu e não estar lá ainda. É viver a eternidade, mas ainda só com a esperança que ela chegará. É buscar viver a pureza, lutando contra a concupsciencia. É ser mediador daquele que é o centro. É cuidar com a consciencia que precisa ser cuidado. É viver a solidão do pastor sem nunca estar só. É amar a todos, mesmo que ninguem o ame.

É aceitar a todas as pessoas, mesmo que ninguem o aceitem.

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