- Até aqui foi, mais ou menos, fácil; você escutou com mais atenção o que a sua esposa dizia. Agora, se quiser salvar mesmo o seu casamento, para o próximo ano, escute também o que ela não diz -.
A história acaba aqui, não sei como ficou o casamento daquele homem após o segundo ano, entretanto achei curioso o conselho do sábio, porque nos lembra algo de muito difícil, algo que nos parece quase impossível. Como ouvir o que os outros não dizem? Não é uma bobagem querer escutar o que nem é dito? De jeito nenhum.
Primeiro porque confiamos demais em nossas palavras, nos nossos raciocínios e discursos. Achamos que o que dizemos é tudo o que pensamos e sentimos. Nada mais falso! Na maioria das vezes é muito mais o que não expressamos, porque não conseguimos, não achamos importante, ou simplesmente porque preferimos que o assunto acabe por aí, engolindo os demais sentimentos e as demais explicações. Pela alegria e pela tristeza. Ficamos mudos para não ofender, por achar perda de tempo conversar mais. Outras vezes calamos, por não querer admitir que o outro, ou a outra, é melhor do que nós, que fez tudo bem feito, que deveríamos agradecer-lhe.
Podemos silenciar para não machucar, é verdade, mas podemos silenciar, também, para não querer louvar quem está perto de nós. Simplesmente por entender que fez o que devia fazer. Cumpriu uma obrigação, nada mais. Com o silêncio, perdemos a oportunidade de manifestar a nossa admiração, a nossa gratidão, a nossa alegria por ter aquela pessoa, – mãe, pai, marido, esposa, filho, colega, amigo – junto conosco. Nesse caso seria melhor falar.
Em outras situações, ter um pouco de criatividade em imaginar o que o outro -ou a outra- não diz, pode servir para evitar uma confusão, criar um clima de compreensão, resolver com um sorriso, ou um olhar, um possível mal- entendido. O silêncio pode esconder insatisfação, revolta, submissão, medo, desinteresse. Dificilmente, o ficar calados, revela amor.
Neste domingo, Dia dos Pais e início da semana da família, muitas palavras serão usadas para elogiar ou condenar os pais. Ouviremos homenagens, poesias, reflexões. Também debates, reclamações, acusações. Mais uma vez um mar de palavras. Algumas poderão fazer chorar de alegria e de comoção, outras de ressentimento e de raiva.
Muito mais palavras, porém, não serão ditas. Por não ter o pai por perto, por não conhecê-lo bem, por medo, por preguiça ou mesmo por indiferença.
Para ajudar as nossas famílias, devemos ter coragem de falar, com jeito, com carinho, com confiança. Devemos parar de pensar que é inútil uma boa conversa com o marido, com a esposa, com os filhos. Conversar com sinceridade e escutar com interesse. As duas atitudes andam juntas.
Contudo devemos desconfiar de muitas palavras. Devemos nos perguntar no silêncio, na escuta e na observação, o que poderíamos fazer mais e melhor para os outros. Sem palavras, mas com gestos concretos, com a presença e a atenção amorosa. Assim saberemos surpreender os que amamos: adiantando-nos com aquilo que, temos certeza, gostariam de ouvir ou receber, mesmo se não o manifestaram. Porém sem escutar o que nos dizem com o seu silêncio vai ser difícil acertar.
Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá
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